Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Hoje é Dia do Pai.
E como eu gosto do Dia do Pai! E do Dia da Mãe!
Nunca oiço dizer que Dia do Pai é quando um Homem quiser
ou Dia da Mãe é todos os dias.
E eu gosto do Dia do Pai - e do Dia da Mãe - exactamente por isso.
Porque ninguém me chama a atenção para o facto de as lojas (também)
se encherem de apelos ao consumismo.
Porque ninguém me repete que (também) só se lembram do Pai
- ou da Mãe - nestes dias.
Porque (nunca) ninguém se ri do meu celebrar.
Por vezes penso que não sou amante de poesia. Talvez por achar que não a entendo ou por nunca ter conseguido pegar num livro de poesia e lê-lo de um fôlego só. Já me disseram que estou enganada, duas vezes enganada, quando digo que não entendo e porque a poesia não se lê assim. Que não sei o que digo. Que não confio no que sinto. Porque é certo que há palavras, ditas de poesia, que me molham os olhos, tornando-os capazes de ver mais além, despertando em mim tudo o que tantas vezes esqueço ser, que nem sonhava entender. Porque é certo que há palavras, ditas de poesia, que dizem tudo o que eu nunca conseguiria dizer.
Um dia ouvi ler um texto. Não sei se lhe chamam poesia, mas talvez o seja porque eu consegui escutar a melodia que as palavras entoavam. Não sei se era sobre o Dia do Pai mas talvez o fosse, porque foi de Pais, e (também) do meu Pai que me lembrei. E hoje (também) porque é Dia do Pai, mesmo não sendo minhas as palavras, quero oferecê-las a todos os Pais - e a todas as Mães que também são Pais - pois há coisas que, nem que eu vivesse mil vidas, seria capaz de explicar.
“Na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu.
Depois, a minha irmã mais velha casou-se.
Depois, a minha irmã mais nova casou-se.
Depois, o meu pai morreu.
Hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está na casa dela,
menos a minha irmã mais nova que está na casa dela,
menos o meu pai, menos a minha mãe viúva.
Cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho.
Mas irão estar sempre aqui.
Na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
Enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco.”
José Luis Peixoto
Já ninguém se senta à mesa.
Pouco importa. Eu ainda aqui estou.
E enquanto eu aqui estiver, estaremos todos à mesma mesa.
Feliz Dia de Ti, Pai!