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Sou viciada em livros.
Não é uma simples paixão. É uma obsessão, uma doença, um vício.
Não consigo resistir, é mais forte do que eu. As bibliotecas são, para mim, locais de puro prazer e as livrarias verdadeiros antros de perdição. Parece que todos os meus sentidos se aguçam quando vejo uma montra cheia de livros. Encanto-me. Esqueço o que me rodeia como se fosse um velho marinheiro ouvindo o canto de uma sereia. É como se passasse ao lado das portas do Paraíso e não resistisse a espreitar. Tenho que entrar. Só uma causa maior me poderá impedir. Preciso de tocar nos livros, acariciar-lhes as capas, tomar-lhes o peso, folheá-los sem conseguir ler um único parágrafo até ao fim, demorar-me numa ou noutra palavra, deixar-me inebriar pelo aroma da tinta que se desprende em cada página que ganha vida sob os meus dedos. Há sempre um qualquer primeiro pormenor que me atrai: a cor, o título, o autor, o assunto. Não interessa. Desde os grandes clássicos da literatura, aos autores desconhecidos ou manuais seja do que for, qualquer desculpa é boa para ter aquele livro. Porque eu preciso de os possuir, saber que estão ali, à espera que eu os abra e desvende os seus segredos. Esse é o meu vício.
Nunca achei que tinha livros demais. Sou por natureza poupada, quase forreta em coisas como roupa ou afins, mas uma verdadeira perdulária quanto se trata de livros. Costumo brincar com quem me coloca qualquer questão dizendo “não sei, mas devo ter um livro que fale nisso” e grande parte das vezes até é verdade. Um dia pensei em organizá-los mas rapidamente desisti. Gosto de ter que os procurar. Perco-me sempre e eu gosto de me perder nas minhas estantes. Encontrar alguma história que já nem me lembrava. Sentar-me no chão e recordar o que senti quando o li. Muitas vezes desisto do que procurava e volto a reler o que encontrei. Arrumá-los é outro prazer. Eu que abomino as tarefas domésticas, que me roubam tanto tempo, gosto de limpar-lhes o pó, realinhá-los, dispô-los de outra forma. E volto a folheá-los, a cheirá-los, como se lhes tocasse pela primeira vez.
Vivo mil vidas nos meus livros. Viajo até outros mundos e outras eras.
Já fui tantas heroínas que nem lhes sei a conta.
Já me emocionei, já me revoltei, já me irritei com o que me oferecem.
Descubro-lhes encantos diferentes conforme o estado de espírito com que os leio.
Ensinam-me e obrigam-me a aprender.
Não têm idade, nem têm preço.
São os meus amigos, os meus tesouros, o meu vício preferido.