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Sofro de paciência. Dizem. Não há dia em que, a propósito disto ou aquilo, alguém não me diga: "não sei como tens paciência" ou "responde tu que tens mais paciência" ou qualquer outra frase no género. Paciência é uma palavra (conceito?) constante no meu dia-a-dia. Estranhamente não me considero tão paciente assim. Há dias em que até comigo me impaciento. Ouvi dizer que a paciência é santa e eu de santa só tenho o nome.
Sou, isso sim, capaz de respirar fundo - nem sempre no momento - e fazer um esforço por entender. E enquanto os pulmões não recuperam a capacidade de funcionar sem que a isso os obrigue, mordo a língua e suporto a dor até que a serenidade que me imponho para viver em paz, consiga cumprir o seu papel. Não sou, com certeza, tão paciente como me julgam, mas posso mostrar-vos as cicatrizes que guardo na língua.
Não sou perfeita - longe disso! - e nem sei se a perfeição existe. Tento apenas ser um ser humano decente, defendendo valores antigos de lealdade e respeito para quem me rodeia. Aos estranhos lamento-os e relevo. Os outros já me merecem - porque quem mora no meu coração é merecedor - outro cuidado e procuro sempre encontrar a razão por não agirem da mesma forma comigo. Não por ser paciente, mas porque erro todos os dias.
Consigo até - com muita dificuldade, é certo, e nem sempre totalmente - abstrair-me da dor e justificar as palavras ou os gestos que julguei impossíveis. Resisto a usar as mesmas armas, a descer ao mesmo nível, a devolver a dor. Resisto o melhor que posso. Pelos outros, mas acima de tudo por mim. Porque sou a pessoa com quem viverei até ao meu ultimo suspiro. Não é paciência, é egoísmo.
Tenho algures - não sei se no coração, de pesado que às vezes o sinto - um lugar onde guardo as mágoas e as dores. Não as esqueço. Nem quero esquecer que fazem parte da minha história. Em dias de masoquismo solto-as todas e é vê-las a lutarem entre si pela responsabilidade na morte dos meus sonhos. E eu deixo-as gritarem até se cansarem. Até me cansar. Até deixar de as ouvir, de as sentir, de sentir seja o que for. Enrolo-me em mim mesma até me perdoar. As vezes bastam uns minutos, outras vezes são precisos anos. Nem sempre consigo. Então invento sorrisos. Rima com paciência: resiliência.
Acredito que a paciência deve ser usada sensatamente. Deve servir um propósito: encontrar o que de melhor a vida, os outros e nós mesmos, temos para dar. Permite-nos não nos precipitarmos nos juízos que fazemos, nas decisões que tomamos. Dá-nos a oportunidade da redenção, da correcção dos erros, da reconstrução dos sonhos. Traz-nos a serenidade de acreditar que estamos a ser justos que, aconteça o que acontecer, fizemos o nosso melhor. A paciência é filha da esperança... digo eu, que sem esperança não tenho paciência para nada.
Dizem que sofro de paciência. Não acho. Acho que sou paciente quanto baste. Como qualquer pessoa dita normal. Mas se o diagnóstico estiver correcto, e esta minha paciência for mesmo uma doença, fiquem a saber que não é crónica. Tem cura. No dia do basta, do já chega, do não vale a pena. E se servir para acalmar os corações de quem me gaba a paciência - e possivelmente surpreender quem abusa dela - quando se esgota, não há nada a fazer. Porque a paciência tem sempre limites. Mesmo quando parece que não...