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(Quase) Só para mulheres

por Maria Alfacinha, em 02.10.15

27-mulher_voto.jpg

 

Domingo é dia de eleições.

O desencanto e indiferença pela política, o descrédito dos seus personagens - salvo raras excepções que de tanto repetirem as mesmas máximas sabemos sempre com o que contamos - a proliferação de partidos, alguns deles estranhos mas a maior parte quase incompreensíveis na explanação das suas propostas (sim, dei-me ao trabalho de ler tudo o que podia, em fonte própria e não apenas no diz-que-disse das redes sociais ou nas colunas de opinião e rubricas televisivas das muitas mentes brilhantes que pululam neste pequeno jardim à beira-mar plantado e que me deixam sempre a pensar como é que, com tantos crânios e especialistas, ainda não somos uma superpotência mundial, pronto, europeia), leva-me a temer que a abstenção seja a grande vencedora.

 

Como se já não bastassem todas estas razões - mais do que válidas, tem que ser dito, e era bom que o pessoal da política percebesse isso - temos ainda o tal do comodismo, a maldita inércia em que as gentes embrulham os dias, seja por descrença, por preguiça ou simplesmente porque perderam a esperança num futuro diferente e melhor, ou porque já não têm forças para lutar. A descrença e a falta de forças, embora não aplauda, ainda consigo entender, mas a preguiça, lamento, não tem qualquer justificação. Não há eleições todos os dias; custa assim tanto gastar uns minutos do dia, pegar no Cartão de Cidadão e ir depositar um papelinho numa caixa? As mesas de voto funcionam das 8 às 19, não fecham à hora de almoço e, ainda por cima, temos sempre a possibilidade de encontrar amigos ou simples conhecidos - ou aqueles que acabamos por reconhecer, porque somos sempre os mesmos - aproveitar para tomar um café ou pôr a conversa em dia. Alguém se lembra da altura em que ir votar era uma festa?

 

No entanto, há uma parte do eleitorado que eu não consigo mesmo entender, nem sequer aceitar – só um caso de vida ou de morte o justificaria - que não vá votar. Estou a falar das mulheres. As mulheres que, ainda hoje, em pleno séc XXI, só para dar um exemplo, ganham menos que os seus colegas-homem, não por serem menos competentes ou menos qualificadas, mas apenas por serem… mulheres. As mesmas mulheres que, em Portugal, estiveram impedidas de votar até há menos de 40 anos: o decreto-lei que, finalmente, “autorizou” todas as mulheres a exercer um direito que qualquer cidadão, em democracia, tem que ter, foi publicado em Abril de 1976. Como é que conseguem, mulheres do meu País, desprezar algo que nos pertence por direito enquanto cidadãs, e que custou tanto a ser reconhecido? Como é que justificarão, perante as vossas filhas, quando elas se sentirem cidadãs de segunda – e acreditem, que muitas de nós nos sentimos assim… - o terem abdicado da vossa oportunidade de dizerem o que querem para a vossa terra, a vossa vida, a vida dos vossos filhos?

 

No próximo Domingo, mulheres do meu País, larguem as milhentas tarefas que vos roubam o tempo de descanso, passem uma corzinha nos lábios e vão votar. Não vos digo em quem, quase que pouco importa neste caso. Mas vão. De cabeça erguida, mostrando o quanto se envaidecem por serem cidadãs de pleno direito. Dos homens do meu País, espero que se sintam orgulhosos das mulheres que somos. Domingo, dêem-nos o braço e acompanhem-nos lado a lado, até à nossa mesa de voto. Depois podemos ir celebrar. Afinal, votar ainda pode ser uma festa.

publicado às 13:07


18 comentários

De Maria Alfacinha a 05.10.2015 às 14:32

Há dias e dias, e dia de eleições, felizmente, não há todos os anos (embora às vezes pareça que sim). E eu ainda acho que pode ser um dia de festa :-)

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