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Aponta em calendário, risca as paredes da casa, coloca na coleira das cadelas, faz até tatuagem nos antebraços e no peito dos dois pés, mas não faltes dia 17 de Outubro pelas 18h na Lx Factory em Alcântara, na Ler Devagar que eu quero-te na mesa a meu lado, a dizer palavras sobre o que escrevo e, claro, dar-te um abraço antigo muito apertado.
Foi assim que fui intimada, perdão, convidada a comparecer aqui.
Escusado será dizer que tatuei o peito dos pés… a marcador… e que lhe enviei uma foto, em jeito de aceitação, para a deixar mais descansada. Mas é desta forma que a Maria de Fátima nos escreve, a todos nós que temos o privilégio de receber mensagens, recados, convites ou simples desabafos. Por vezes fico a pensar como serão, lá em casa, as listas de compras ou as recomendações para a lavandaria…
Conheci a Maria de Fátima na internet. Abençoada! Não fosse este mundo virtual - e os horizontes que nos proporcionam - e possivelmente nunca nos teríamos encontrado. Na altura, a blogosfera florescia, e foi aí que nos cruzámos, na descoberta deste amor comum pela palavra escrita, pela forma como nos permite transmitir o que sentimos e, se os deuses nos abençoarem, tocar os outros. Tenho de falar nisto, não só porque prova que a tal da internet é - ou pode ser - muito mais que uma feira de vaidades, mas também porque a Maria de Fátima insiste, sempre insistiu - e ela sabe ser insistente – em recordar como tudo começou, e como as nossas vidas poderiam ter sido diferentes.
Só mais um abraço, o livro que hoje aqui se apresenta, relata alguns anos da vida de uma família que, por força de um jogo de cartas que terminou mal, se vê obrigada a partir para um outro continente, um mundo diferente de tudo o que tinham conhecido até então. A narrativa é feita através dos olhos de Lurdes - embora não seja contada na primeira pessoa - o que nos permite uma observação simples, mas atenta aos pormenores, como quase só as crianças conseguem fazer. Á volta dela, e do que vai entendendo à medida que cresce, enredam-se outras vidas que a tocam, principalmente a de Maria Inácia, a mãe, que apesar da loucura em que acaba por enrolar os seus dias, é uma âncora resistente às tormentas e, estranhamente, mantem Lurdes lúcida e objectiva na descrição do que a rodeia. É um livro que quase necessita de ser lido em voz alta, pausadamente, como quando queremos contar uma história de encantar.
As histórias da Maria de Fátima nunca são cor-de-rosa, apenas e só porque a vida também não o é. As cores da sua escrita são quase frias de tão autênticas, mas tornam-se quentes na exposição dos sentidos. E no meio de toda a realidade que ela conta com mestria, surgem apontamentos de uma ternura imensa que nos amassa a boca do estômago quando os lemos. Só mais um abraço, não é diferente. Da primeira vez que o li senti, como sempre sinto, dificuldade em interromper a leitura. Terá, porventura, a ver com a cadência da narrativa, que é intensa, porque não é com certeza pelo ritmo das palavras que são sempre compassadas, demorando-se preguiçosas, como se soltassem suspiros ao longo das frases. E a forma muito própria como ela escreve, como brinca com as palavras, – chamo Fátimês a esta língua que só ela usa - obriga a uma leitura lenta e cuidada, para nos deixarmos embriagar com o que nos faz sentir.
Termino com as mesmas palavras que utilizei, quando ela me perguntou o que tinha achado deste novo livro: Li-o de um fôlego, que ansiava saber o fim da história, como se eu não soubesse já que as tuas histórias nunca têm fim. Li-o muito rapidamente, mas eu sou uma das sortudas que conhece o Fátimês. Depois li-o outra vez, todos os dias um bocadinho, a caminho do trabalho. E no meio do Tejo, fizeste-me sentir em Africa.
Obrigada