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Eu sou o Pepo.
Acho que tenho quase 3 anos. Digo isto porque quando a minha dona me achou na rua, levou-me a um senhor que olhou para os meus dentes e disse que eu devia ter 6 meses. Bom, a idade também não interessa muito pois a minha dona passa a vida a dizer que eu nunca mais cresço e que hei-de ser sempre um bebé chorão. Adiante. Hoje resolvi dar-vos a conhecer a minha perspectiva deste sítio a que chamam férias. Já andava a ouvir falar nisso há uns dias. A minha dona, de vez em quando, dizia-nos que íamos para férias, que íamos conhecer um primo chamado Sebastião e que tínhamos que ser simpáticos com ele, porque ela não queria passar o tempo todo a correr atrás de nós. Não percebi muito bem qual era o problema pois se há coisa que eu gosto é de andar a correr atrás dela, ou vice versa, mas ela só falava que queria paz e sossego e isso deve ser alguma coisa muito cara ou difícil de arranjar. Seja como for irmos para férias devia ser complicado porque a minha dona começou a encher caixas com coisas e a riscar uns papelinhos que ficavam em cima da mesa da sala, e que deviam ser importantes, pois ela ralhava sempre comigo quando eu os tentava roubar. Por fim percebi que devíamos estar quase a partir porque fomos visitar uma senhora simpática que nos apalpou a barriga, espreitou-nos os dentes e os ouvidos, e deu-nos uns biscoitos sem sabor depois de nos espetar umas coisas nas costas. Na manhã seguinte, a minha dona fez-nos entrar no carro e lá começou a nossa viagem.
Não correu mal. Havia muitos carros a passar ao nosso lado e eu ainda tentei manter-me sentado para ver a paisagem, mas as curvas não ajudavam muito. De vez em quando ela olhava para trás e dizia que nós éramos uns cães bonitos e isso era suficiente para mim. Por isso resolvi deitar-me e esperar pela chegada às tais de férias. Não sei se adormeci, mas o certo é que a viagem não me pareceu muito grande. Quando a minha dona parou o carro e abriu a porta da bagageira percebemos que tínhamos chegado. Saltámos para o chão e demos com o portão das férias e do outro lado o tal Sebastião. Afinal também não eram precisas assim tantas recomendações: o nosso tão falado primo era simpático, parecia bem satisfeito por nos ver e resolveu logo mostrar-nos as férias, pelo que desatámos a explorar o local deixando à minha dona e ao tio que nos tinha acompanhado, a tarefa de tirar todas as caixas de dentro do carro.
Até agora estou a gostar bastante. Primeiro, a minha dona está sempre por perto que é uma coisa que me agrada muito. Gosto de dar uma voltinha e saber que ela está ali sentada com um livro na mão. Depois estas férias têm muitas coisas novas e diferentes. Mesmo ao pé da porta da casa há um relvado grande onde nós nos rebolamos e coçamos as costas. Há muitos pássaros por aqui e uns bichos estranhos que rastejam, mesmo ao pé de nós e que deixam o Dusty doido para os apanhar o que causa sempre alguma animação, isto para não falar dos buracos que ele já descobriu e por onde foge para ir explorar a vizinhança. A mim não me apetece. Gosto de ficar aqui por perto a correr com o Sebastião e a vir de vez em quando pedir conversa à minha dona. Só não gosto mesmo é daquele buraco grande e azul onde ela de vez em quando se mete. Descobri que tem água, muitaaa água, demasiada água para o meu gosto. Eu gosto de água em pequenas quantidades, assim dentro de uma tigela ou numa poça para eu beber. Mais do que isso já acho que é exagero. E este buraco tem tanta água que quando a minha dona se mete lá dentro desaparece completamente o que é uma coisa que me deixa sempre muito aflito. Depois lá vejo aparecer a cabeça dela e tenho que ir a correr para o outro lado do buraco para ver se ela está bem. O pior é que ela volta a desaparecer e quando a vejo novamente está no outro lado do buraco. Lá vou eu outra vez a correr e quando lá chego lá desaparece ela outra vez. É uma canseira ! Só sossego quando ela finalmente sai de dentro do buraco e vem estender-se ao sol. Já percebi há muito tempo que ela não se sabe sacudir pois quando a vejo tomar banho lá em casa ela usa sempre uma toalha para se secar. Aqui pelo menos fica sossegadinha e deixa que eu me deite no chão ao pé dela e até fala comigo, muita coisa que eu não entendo mas que gosto de ouvir na mesma.
E agora tenho que ir que ela já está com aquele ar de quem se vai meter outra vez dentro do buraco e eu tenho que ir tomar conta dela. Mas que mania! Hoje nem está sol! Porque é que ela não consegue ficar aqui quietinha, sentada ao pé de mim?
Ah que vida dura! Deve ser isto que chamam vida de cão...