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Confundes-me. Agora. Nas últimas semanas. Por momentos.
E por vezes quase que volto a acreditar. Até recordar o quanto quis acreditar.
E o quão descrente me tornei. O quanto me fizeste descrer. Porque foste tu que me fizeste descrer. Foste tu que relevaste as minhas convicções, a minha entrega. Porque tu é que sabias, tu é que eras lógico e prático e realista. Eu era a sonhadora, a inconsciente, a tontinha. Não que alguma vez o tivesses afirmado. Apenas ignoravas, encolhendo os ombros naquela atitude complacente de quem espera que o outro um dia lhe dê razão. E eu, convencida que a tua atitude não era mais do que o fruto do não-saber, empenhei-me em mostrar-te caminhos que não conhecias, vidas que nem sabias serem possíveis, gestos que nunca ousaras considerar.
Levei anos a tentar. A desistir. A recomeçar. A revoltar-me. A aceitar. A desesperar. A alhear-me. A não me conformar. Por mim. Por não querer acreditar que me tinha enganado, porque não era possível ter-me enganado tanto assim. Porque nunca estive cega. Não contigo. Com ninguém. Tentei durante anos. Por mim e por ti. Por acreditar conhecer o que procuravas, que apenas não sabias como o fazer, que não tinhas coragem, porque a coragem para lutar pela felicidade não é uma característica masculina, porque não conhecias nada mais além do pequeno, previsível e controlado universo onde te moves e te sentes seguro e protegido e contente. Não feliz, mas contente, sem almejar sonhos maiores do que os que te ensinaram a sonhar. A tentar apenas porque sim, porque não consigo largar as minhas batalhas a meio, não consigo dar-me por vencida antes de me esgotar.
Levei anos. Anos que hoje me parecem imensos, uma quase-vida que escorreu por entre os meus dedos, sem corpo, como se fossem compostos de pequenissimos momentos, tão pequenos que é impossível segurar, que se escaparam lenta e dolorosamente entre os minutos dos meus dias, convertendo aos poucos, imperceptivelmente, sem que eu desse por isso, os meus desejos em ânsias de paz, em desassossegos de audácias, numa verdadeira sofreguidão de viver. Até ao dia em que bastou uma gota, uma simples gota...
E eis que mudas tudo. Baralhas-me os sentires. Roubas-me as certezas. Tornas teus os meus gestos. Confundes-me os desejos. Espantas-me. Abalas os meus dias. Quase que me fazes vacilar. Quase. Mas apenas quase, porque aprendi a manter o que acredito longe do que sinto. A não me deixar encantar. A duvidar, duvidar sempre. A analisar, a contestar, a procurar lógica nas acções. Aprendi à custa de lágrimas e raiva, mas aprendi. Contigo. Com o melhor professor que conheci. Que me confunde. Agora. Nas últimas semanas. Por momentos. E por vezes quase que volto a acreditar.
Mas é apenas quase...