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Sei que padeço de uma deficiência estranha, este não saber escrever quando não me sinto bem. É, talvez, a primeira faculdade que perco, talvez por ser aquela que me dói mais perder, uma dor tão grande que me abafa o sentir, me perturba o raciocínio e me deixa num estado de tristeza imensa que não consigo descrever. Mas as minhas dores, incapacidades ou manias não podem servir de desculpa para abandonar ou esquecer o mundo que me rodeia.
Apercebi-me hoje - talvez fosse há mais tempo, não sei, o tempo por vezes não tem a dimensão que conhecemos, que aprendemos a medir - que tenho vivido tão embrenhada nos meus problemas e daqueles que me estão mais próximos e que também me afectam, que acabei por me alhear de tudo o resto. Não foi intencional, nem sequer pensei nisso. A vida por vezes troca-nos as voltas, enrola-nos os dias em marés vivas, e o instinto de sobrevivência sobrepõe-se a tudo o resto. Não porque os outros deixaram de ser importantes mas apenas porque concentramos todas as nossas forças num único objectivo: o de não nos afogarmos, de não nos esquecermos de nós mesmos, de não darmos qualquer oportunidade à desesperança de nos quebrar o Ser. Tudo o resto parece estranho, perfeitamente adiável e nem sequer ocupa qualquer espaço nas nossas prioridades. Mas nada disto serve de desculpa... ou não deveria servir.
Este é o meu acto de contrição, a minha forma de agradecer as visitas mudas, as palavras que me deixam e que levo semanas a responder, apenas por não saber escrever. Mas é principalmente um acto de contrição dedicado à Carla e à Isabel, duas mulheres lindas e maravilhosas, amigas do peito há mais de 20 anos, minhas companheiras e irmãs que amo do fundo do coraçao - algo que nunca me esqueço de lhes dizer quando lhes escrevo - e que conseguem ter, a centenas de quilómetros de distância, as mãos estendidas e os braços sempre abertos para me acolher, relevando as suas próprias dores na compreensão e na disponibilidade com que posso sempre contar. Para vocês, minhas queridas, em jeito de agradecimento por existirem e por serem quem são na minha vida, deixo-vos este video, o mais parecido que encontrei com o concerto a que assistimos há muitos anos atrás, e o AMO-VOS MUITO que nunca me canso de repetir.
("Prontos" ! Disse-o publicamente ! Agora lidem lá com isso...)