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(esta manhã em Lisboa)
Há quem entre em depressão com o Inverno. Eu gosto de dias cinzentos, de nevoeiros cerrados, céus nublados e temperatura a condizer. O Inverno traz-me a ânsia de saber, a vontade de estudar agora que alcancei a quietude que me permite concentrar no aprender durante horas a fio. Quando era adolescente queria era correr o mundo, queria lá saber de fotografias e descrições enfadonhas. O meu sonho era partir à aventura, seguir a rota de Marco Polo, descobrir o Novo Mundo, ou subir às pirâmides, para imitar Napoleão e gritar: "20 séculos vos contemplam!". Nessa altura já tinha desistido de ser pirata ou viver numa ilha deserta, mas fecharem-me entre quatro paredes era um verdadeiro suplício e as horas arrastavam-se, num desperdício de tempo e da vida que passava lá fora. A serenidade aprende-se assim, no descanso depois da viagem, no regresso a casa, no saborear dos dias que vivemos intensamente. Seja bem-vindo o frio que me sossega, a chuva que me faz sonhar, sorrir e dançar.
O Inverno não me assusta, não me entristece. O Verão traz-me a consciência da realidade, daquilo que me rodeia, do papel que cumpro neste mundo onde nasci, mas o Inverno força-me ao recolhimento, ao regresso a mim mesma, aos casulos que crio em todas as horas do dia, não interessa onde, não importa como, deixando-me apenas ser, e curiosamente entender, entender tudo, como se já não fosse um esforço, como se fosse essa a liberdade que anseio, quebrando as amarras das minhas crenças que, mesmo sem querer, me limitam o juízo e deturpam a percepção dessa maravilha que é o sermos todos diferentes. É no Inverno que a minha mente se emancipa, tornando-se maior e mais livre, mais capaz e mais lúcida. E é a chuva que me devolve os cheiros, as mil tonalidades de verde e os brilhos que me fazem sonhar.
No Verão... sou só pele.