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Dizem que as minhas palavras estão diferentes.
Reli o que tenho escrito, o que escrevi noutro tempo e não encontro diferenças no que sou. Talvez as palavras estejam realmente diferentes. Talvez tenha (re)descoberto palavras que não conhecia. Ou ainda, quem sabe, tenha encontrado palavras de que já não me lembrava. Se calhar têm outras cores. Ou tornaram-se sépia de usadas. Pode ser que tenham apanhado demasiado sol. Que tenham viajado e estejam mais vivas. Possivelmente andaram perdidas, vadias, boémias, ciganas. Buscaram sabedoria, desbarataram vontades, sumiram-se em delicadezas, empanturraram-se de vazios, confundiram-se na vida, com a vida, pela vida. Porque as palavras têm vida própria, quereres, sedes e dores como gente.
Também eu sou gente. Tenho pele, sangue e paixão. Lágrimas e risos. Verdades e segredos. Sem fingimento ou hipocrisias. Defeituosa e perfeita como toda a gente. Como todas as palavras. Mas sou a mesma. Talvez disposta de outro jeito. Com mais capacidade para ouvir, menos inclinação para esperar. Sépia de usada – não gasta, não esgotada, apenas usada. Com mais sol, sem dúvida, mas com muito frio também. Por mim têm passado todas as estações, todas as emoções. Mas não é isso que é viver? Este crescer continuamente, esta ânsia de conhecer? Enfraquecida apenas por momentos que o meu destino é ser forte e vencer. Diferente? Por vezes queria-me mais sábia e, quem sabe, mais contente. Mas gosto deste lento avançar, desta pouca pressa de concluir. Deixar que os meus sentidos se arrastem e tenham tempo para apreciar. Os quereres e as palavras. As flores e as estrelas da minha vida.
Não sei se as minhas palavras estão diferentes.
Rebusquei-as dentro de mim e misturei-as com o que sinto.
Mas são as mesmas. Como eu sou a mesma.
Apenas arrumadas de outra maneira.
As palavras e eu.