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Já não me afecta o teu desalento.
O tempo tem destas coisas, suaviza o sentir. Ou talvez não seja o tempo, talvez sejam os gestos, as acções ou, pior ainda, a sua ausência. Mas custa-me ver-te assim. Mesmo sabendo que o grande responsável pelas tuas dores és tu mesmo. Foste tu que, com a tua inércia, permitiste que a vida se transformasse nesse caos que te desespera. A tua forma de lidar com os problemas, ignorando-os ou desvalorizando-os, deram-lhes o controlo da situação. E hoje é quase tarde demais para conseguires alterar isso.
Mas não deixa de me ser difícil ver-te assim.
Acho que ainda conseguiria fazer mais.
Aliás, tenho a certeza que conseguiria. Já me conheces: acredito que nada é impossível, que tudo posso. Mas para isso era preciso querer e eu já não quero. Tantas vezes eu te disse que um dia isto poderia acontecer. Não ouviste, ou se o fizeste, evitaste pensar, fizeste por esquecer. Achaste, talvez, que era mais um dos meus exageros. “Tens o coração ao pé da boca! Falas sem pensar!”. E não sei se alguma vez foste tu que o disseste sem pensar, ou se houve um dia em que percebeste que estavas errado, que afinal eu ajuízo, tento entender e que o facto de dizer tudo o que penso não faz de mim uma tontinha. Expliquei muitas vezes, tentei que entendesses os meus limites, pedi-te que não matasses a vontade que ainda me animava. Mas para ti, isso era mais um problema, e tu tens uma forma muito própria de lidar com eles: falas do tempo.
E eu soube, então, que um dia desistiria.
Sei que te dói quando te digo que já não acredito.
Vejo nos teus olhos a mágoa quando percebes que não confio. Chegas a estremecer quando eu duvido, sem pejo, do que dizes. Por vezes quase me sinto cruel por ser tão franca nas palavras. Mas sofro desta incapacidade para a diplomacia. Chamo os bois pelo nome. E já perdi a vontade de suavizar a minha honestidade. Perdia-a quando desvalorizaste o facto de eu te ter tornado a minha prioridade. Quando me deixaste para depois. Quando me tomaste como certa na tua vida. Como um cais, o teu porto de abrigo – são tuas, as palavras - que não fizeste por cuidar. Hoje percebes que escapo por entre os teus dedos. Que os teus actos deixaram frechas por onde a vida me chama e que tu tentas tapar.
E eu já não me ofereço para te ajudar.
Sei que conseguiria fazer mais. Custa-me ver-te assim.
Mas já não quero. Cansei. E tu só agora te apercebeste disso.
Sorry! Life's a bitch...