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Cá na rua os vizinhos não incomodam. Bom... isto se não considerarmos a fobia das obras que os ataca assim que chega o Verão. Vai-se a chuva e o bairro é invadido por camiões, carrinhas e afins, contentores que ocupam os nossos lugares de estacionamento e uma multidão de homens de tronco nu coberto de caliça (não, não é uma vista muito agradável pois os melhores exemplares andam a fazer anúncios da Coca-Cola) e que insistem em dar a conhecer, a todos os que os rodeiam, o que pensam acerca de temas tão variados como política, futebol e mulheres, alargando consideravelmente os nossos horizontes em termos de calão.
Têm o péssimo hábito de trabalhar 7 dias por semana - perdão, 5+2, já que é proibido fazer obras ao fim-de-semana - e começam rigorosamente à hora que a lei lhes permite, não nos dando oportunidade para reclamar o facto de se lembrarem de descarregar pedras, para dentro de carrinhos de mão metálicos, mesmo por baixo da janela do nosso quarto, quando os nossos neurónios ainda não conseguiram abrir os olhos, o que, no silêncio matinal do bairro, nos despertam instintos violentos que com alguma dificuldade conseguimos controlar, mas que se reacendem quando, meia hora depois, passamos por eles e reparamos que estão a descarregar areia.
Outra característica, é necessitarem exactamente daquele sítio onde deixámos o carro, para colocarem seja lá o que for, ou seja, tocam à campainha no preciso momento em que acordámos, o que, quando surgimos à porta, vai estragar por completo a boa imagem que nos preocupámos em manter na vizinhança. Nessas alturas, podemos medir o nível de consideração que perdemos, já que é directamente proporcional ao tom de voz, e à quantidade de vezes, que nos pedem desculpa por incomodar.
O pior, quanto a mim, é a mania que têm de não reparar que, por baixo daquele local onde vão utilizar o martelo pneumático, passam os canos da água que abastecem as nossas casas - claro que não passam os canos da casa onde estão a trabalhar, pois esses eles já os identificaram - algo que acontece, quase sempre, quando estamos debaixo do duche e já completamente ensaboados, o que, mais uma vez, vem provar a minha teoria de que o Universo anda sempre demasiado ocupado a testar-nos a paciência.
Vem tudo isto a propósito do Dia dos Vizinhos - que se comemora hoje - uma ideia lançada por um grupo de amigos, em Paris, com o objectivo de aproximar as pessoas e lutar contra o isolamento. Habituada a viver, desde menina, em bairros pequenos, onde toda a gente se conhecia, as regras de convivência e laços de solidariedade entre quem partilha as mesmas ruas são-me familiares e só me faz confusão quem se fecha em casa e mal cumprimenta ao passar. Aqui no bairro, não me posso queixar dos vizinhos que tenho.
Quer dizer, se esquecer as obras e a pirosa do 116... mas isso é assunto para outro dia.