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Confesso que não levo a vida a sério. Não quero, porque não reconheço qualquer necessidade, não posso, porque não é do meu feitio, e não o faço porque, com todo o devido respeito por quem passa os dias de sobrolho franzido, não tenho paciência nenhuma para o fazer. Obviamente que estou a falar da vida dita normal, com todas as pequenas contrariedades do dia-a-dia e não das autênticas tragédias com que por vezes somos brindados, as doenças, os terramotos, os acidentes, toda essa panóplia de imprevistos que nos fazem sofrer. Esses sim, são acontecimentos que, infelizmente, não podemos ou ainda não aprendemos a evitar, com que temos de lidar e aos quais temos, principalmente, que sobreviver, porque a Vida é isso mesmo, um caminho entre o momento em que nascemos e aquele em que morremos e que deveria ser quase uma obrigação percorrer da melhor forma possível.
Não, não levo a vida a sério. Não da forma como, muitas vezes, me disseram que o devia fazer, como se o meu tempo nesta Vida só tivesse valor pelo tamanho da casa onde moro, da cilindrada do carro que conduzo ou dos destinos exóticos das minhas férias. É certo que, por vezes, cheguei a questionar se as minhas escolhas seriam as mais correctas, se não estaria simplesmente a fugir de um destino igual a tantos outros e se seria apenas por cobardia que não me conformava com o que esperavam de mim. Sei que perdi muito, sendo como sou, mas perdi apenas materialmente. Pesando os ganhos e as perdas, numa conta rudimentar de “Dever” e “Haver”, como são todas as minhas contas, descubro que tenho um património imenso, uma riqueza incalculável e que dinheiro nenhum no Mundo poderia comprar.
Sou feliz assim. Com dias mais cinzentos, horas negras e algumas dores por acalmar, mas grata pelo que tenho e que, sei agora, nada nem ninguém me pode tirar. Grata pelas coisas simples, pelo tecto que me protege e por adormecer sem fome, mas acima de tudo grata por quem sempre esteve ao meu lado e nunca desistiu de mim, por todas as mãos que não me deixaram cair, por todos colos onde descansei, por todos os ralhos que me ajudaram a ser quem sou. Grata até por quem não quis ficar, por quem teve que partir, por quem não acreditou e que, ao deixar-me entregue a mim mesma, me mostrou o caminho a seguir.
Sou o que devo ser, estou onde devo estar, tenho o que devo ter.
E todos os dias agradeço ao Sol o facto de ele ter escolhido a janela do meu quarto para nascer.
(2013)