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Sou facciosa, bem sei.
Lamento quem, por opção, só usa fato e gravata ou quem faz da carreira profissional um modo de vida, dos cofres cheios um objectivo, das compras um passatempo e já não sabe apreciar o brilho suave das manhãs de Primavera. Fujo de quem é certinho, alinhadinho, bem comportadinho e penteadinho. Afligem-me as casas que podem ser capa de revista, as fotos de família ensaiadas, os carros imaculadamente limpos. Detecto um sorriso falso até pelo cheiro. Prefiro mil vezes uma gargalhada inconveniente ou um murro na mesa.
Sempre tive um fraco por maus alunos e não mudei. Gosto de quem rema contra a maré, quem assume que não sabe por onde vai mas sabe por onde não quer ir, - sim, gosto de José Régio - gosto de quem tem dúvidas e passa a vida a enganar-se. Gosto de quem tem sonhos e deita as mãos à obra, como o jovem que resolveu angariar dinheiro para pagar uma dívida impossível e de todos os que o seguiram, porque quem sonha tem sempre esperança. Gosto de quem não fica indiferente.
Ah, falem-me de literatura mas não me falem de economia, que eu prefiro contar histórias do que dinheiro. Antes tropeçar uma vida inteira, do que abdicar de tudo aquilo em que acredito, do amor pelas gentes, da defesa dos que sofrem, das maravilhas da natureza, da emoção da música e da poesia. Aplaudo quem prefere morrer de pé, do que viver de joelhos. E quando me dizem – e dizem, e repetem, e insistem – que o mais correcto é conformar-me e aceitar um destino em que não acredito, é quando o meu coração grita mais alto e toma conta dos meus actos.
Haverá sempre quem me acuse de ser uma romântica.
Ó mentes iluminadas, que seria do Mundo sem os românticos?