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Gosto do silêncio, das sombras dos ruídos.
Gosto de acreditar que, assim, consigo escutar o meu próprio coração a bater, cadenciado, sem pressa, igual ao tempo, porque no sossego o tempo arrasta-se como se, também ele, se tivesse perdido em vagares, e fosse apenas um sussurro sem voz.
Gosto de acordar cedo nas manhãs de Domingo e ficar a ouvir o Nada.
Aperceber-me do sacudir das asas dos pássaros e do vento nas folhas do limoeiro.
Reconhecer o dia apenas pelo som, acertar a minha respiração pelo compasso de um relógio imaginário. Serena-me, dissipa os maus sonhos, apazigua-me a alma e adoça-me o espírito.
Gosto do que nada tem, nada exibe, nada oferece.
Gosto do que apenas existe. Do que apenas É.
Gosto de lhe descobrir o Ser, as entranhas, a Alma.
Gosto da ausência de uma “razão para”.
Gosto do “porque sim” e do “porque não”, por serem indiscutíveis, por não haver argumento que os contestem. Imponentes como redutores de debate, provocadores da Imaginação, inspiradores de Criatividade.
Gosto de tudo o que me força a abusar do tacto, a aprender com a ponta dos dedos, a sentir com cada décimo de centímetro da minha pele. Gosto de descobrir formas e cores, texturas e sabores, apenas pelo aroma que emanam, pelo calor que irradiam. Desafia-me a vontade, desperta-me o inconformismo, espicaça-me o desejo.
Por isso gosto de janelas sem paisagem. E gosto de paisagens desertas.
Gosto de olhar para o Infinito sem tropeços que me atrapalhem a visão.
Gosto de me sentar a ouvir o silêncio e a pensar no que não há, no vazio, na imensidão estéril com que a Natureza também nos brinda. Sentir-me insignificante em importância e enorme na capacidade de tudo poder. Porque numa paisagem vazia nada nos distrai, nada interrompe o curso do pensamento, nada nos desvia do nosso propósito. Apenas somos. E quando somos, apenas, é tão mais fácil entender, encontrar uma razão, o porquê de nos ter sido concedida esta graça que se chama, Vida...