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Já te disse como as tuas palavras entraram de sopetão na minha caixa de correio. Li-as 2 ou 3 vezes para assimilar o que me contavas, sabendo – mesmo antes de saber – que a novidade que trazias, para mim já não o era, já te adivinhara, sem ninguém me ter dito – escuta bem! – sem ninguém me ter dito, que assim seria. Na altura pensara que, aquela história que ouvira, podia ser a tua. Não, deixa-me dizê-lo de outra forma: aquela história era a tua, porque a senti assim. Por pouco, muito pouco, não te falei nisso. Apaguei a sensação, o mais rapidamente que pude, e esqueci tudo. Até que mo confirmaste. Nem queria acreditar (nem tu querias acreditar). Sorrimos juntas e eu ri-me do palavrão que soltaste. Sabes que nada do que vem de ti me pode chocar. Como poderia? Logo eu, que te conheço tão bem, que te (re)conheci mesmo antes de te conhecer.
Não te digo que recebi um murro no estômago. Foi mais um abanão, um enrolar das entranhas, em tonturas de culpa. A culpa, sempre a culpa. Raio de gente que vive suportando o peso do mundo. Mas não penses que me apiedei de ti. Não. Foi carinho o que senti. Nem tu o sabes, mas és uma fortaleza, um verdadeiro pilar de força e energia. Não me acreditas, escusas de repetir. Já te estou a ouvir a contradizer-me, a justificares-me, a confundires o que te digo com palavras de alento. Não vês o que eu vejo, porque tu não vês, apenas sentes. Tu não ouves, apenas sentes. Tudo na tua vida, na vida dos que te rodeiam, tudo passa pelo que sentes. E é esse sentir tanto, tão mais que todos nós, que te arrasa. Mas é esse mesmo sentir, esse coração imenso que não te cabe no peito, que te permite sobreviver, esqueceres a tua fragilidade, as tuas dores, as tuas angústias e medos e não te conformares, embora por vezes pareça, com o que o destino te reservou. Para além de ti - que a ti nunca poderei odiar - odiei tudo o resto: quem te desprezou, te maltratou, te esqueceu, te ignorou, quem te expôs. Sim, desculpa. Odiei. Revoltei-me. Chorei em soluços de raiva. Fiz como tu fazes e gritei em silêncio. Depois passou-me. Entendi, ou convenci-me disso, e até perdoei – quem sou eu para perdoar, seja o que for? – a humanização da besta. Todos nós preferimos descrer da maldade e da iniquidade…
Agora deixa que te conte. A minha mãe sorria sempre que me via. Mesmo não sabendo quem eu era, mesmo tendo esquecido há muito o meu nome, já sem saber falar, sorria sempre. E ouvia-me horas a fio, enquanto eu contava histórias antigas ou canções de outros tempos que não o meu. Pegava-lhe na mão e punha-a em cima da minha e ela olhava-me, sorridente, e acariciava-me a mão com o polegar como fazia quando era pequenina. Entendes, amiga, minha irmã d’alma, como me chamas, minha estrela do mar, como eu te vejo? Entendes, quando te digo que nem tudo se perde, que aquilo que tu tens de melhor, de maior, que faz de ti quem és, ficará para sempre? Que esse sorriso lindo com que recebes quem amas – porque amas, amas tudo e todos, porque só sabes ser assim – esse sorriso que és tu, nunca desaparecerá? Que nós que te amamos - porque há quem te ame, mesmo sabendo que nunca conseguirá amar tanto como tu - vamos alimentar esse sorriso, sentados ao teu lado a contar-te histórias antigas ao som da música que mais gostas? Acreditas em mim? Então acredita também que nunca vou permitir que te cortem o cabelo. Palavra de mim.