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Há coisas que me tiram do sério. A soberba de quem tudo sabe é uma delas. O á-vontade com que se julga quem nem sequer se conhece. As generalizações que são sempre - e eu que não gosto de usar a palavra - mas sempre, injustas. A palavra sacro-santa de quem foi/é um estudioso do assunto, pouco importa qual, há assuntos de todos os tamanhos e feitios. A não contestação das teorias que tais mentes brilhantes debitam sem pudor, nem cuidado, como se o simples facto de existirem fosse considerado uma bênção para a Humanidade. Os rótulos, que só deveriam ser utilizados para nos informar da composição dos produtos que compramos e que – pasmem-se os céus! – apesar de terem uma função muito específica, e sem margem de manobra para fantasias, nem sempre são correctos ou verdadeiros.
Ah, é tão fácil falarem do alto das vossas verdades, tomando como exemplo a vossa vida tão correcta, sem erros nem pecados, os prémios e louvores atribuídos pelos vossos pares, num mundo inalcançável para uma maioria que não teve família ou nome ou contactos e não falo de favores, mas de uma oportunidade para mostrar quanto se vale e provar que se é merecedor, por capacidade e engenho, sem ajudinhas nem empurrõezinhos. Com que facilidade se esquecem – ou não sabem, ou não pensam, ou pouco vos importa – que esses pobres desgraçados de quem falam, para quem, enquanto gente de bem, reservam os melhores conselhos de poupança, de conduta e de conformismo - porque a vida é assim e sempre assim será – tantas e tantas vezes não foram responsáveis pelo que lhes aconteceu, que fizeram (e continuam a fazer) o melhor que sabiam e que podiam, que acreditaram, que se deixaram encantar – pecado capital, para quem pouco ou nada tem, que o sonho está reservado a outros, quem sabe, mais capazes – que se deixaram enganar por quem se propôs conduzi-los a um outro destino mais justo mas que, apesar disso, não esmorecem, tentam entender, aprender, lutar para mudar um destino que ninguém quer e, em abono da verdade, ninguém merece.
Esses tantos – e são tantos! – não podem ser colocados no rol dos corruptos, manipuladores, aproveitadores de sentimentos ou profissionais do engano. E vós, ó mentes iluminadas, que não podem usar a desculpa da ignorância para as enormidades que proclamam, que se creêm capazes de construir um mundo melhor, vós os arautos de futuros risonhos e fartos que, garantem, só depender da vontade de cada um - revelando-se falsos profetas inventando milagres e deturpando a realidade – de vós, seria de esperar mais decência, decoro e sensibilidade. Do outro lado, do lado de quem vos ouve, está gente que, por vezes, se deita de estômago vazio de comida e coração vazio de esperança.
E gente de bem não insulta quem tem fome.