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“Amo-te” fica-te bem.
Desde a primeira vez que te toquei que o sei. Lembras-te que estranhaste? “Os homens que conheci nunca o disseram” - os teus olhos adoçados na confissão -“que são coisas de mulheres... ridículas” remataste, soltando uma gargalhada. É tão tua essa forma de esconderes as lágrimas. Esse riso franco e contagiante, foi o que primeiro me encantou em ti. A tua fome de vida, de sol e de amor, a alegria, tantas vezes rebuscada no fundo das dores com que vestias os teus dias e, descobri depois, as tuas noites. E eu, sério e sensato, nunca percebi o que viste em mim.
Adoptaste-me. Pegaste em mim e na minha vida cinzenta, disposta a colori-la. Ias buscar-me ao escritório e nas costas dos meus sisudos pares, imitavas-lhes os trejeitos, os passos, os gestos, até eu arranjar uma desculpa para não fazer serão. Ainda no elevador roubavas-me a gravata que nunca mais me devolvias. Penduravas-te no meu braço. Querias mostrar-me a tua cidade. Pedias-me para te levar a todos os miradouros - “Lisboa tem vinte colinas... quero que vejas o pôr do sol de todas elas” - e eu nunca as contei mas sei que foram muito mais que sete as que visitei. Arrastavas-me pela mão para os bairros antigos onde descobrias becos, escadinhas e minúsculas varandas cobertas de gerânios - “Sardinheiras, são sardinheiras!” corrigias impaciente - medrando em latas de tinta e baldes velhos. Quando a fome apertava, escolhias tasquinhas que cheiravam a fritos e vinho, onde servissem iguarias que dispensassem talheres - "Os melhores restaurantes são aqueles onde se pode comer à mão!” sentenciavas trocista - e que partilhavas comigo dos teus dedos que depois chupavas gulosa, consciente do prazer que me dava a atenção que me dispensavas enquanto eu te contava o meu dia. E os teus olhos brilhavam cada vez que me fazias rir.
Foi numa dessas noites que, em S.Pedro de Alcântara, sob um luar esplendoroso de fim de Verão, me pediste para te beijar. Não me fiz rogado, segurando-te o rosto entre as minhas mãos, esquecido de quem passava, da cidade aos nossos pés.Senti-te estremecer e abracei-te: “Tens frio ?” Afastaste-te um pouco para que eu pudesse ver o teu sorriso: “Não...” Foi nessa noite que percebi, que soube o que te ficava bem. Retribui-te o sorriso e sussurei: “Amo-te”
Estranhaste que o dissesse, lembras-te?
Mas ainda hoje, todas as manhãs, me despeço de ti assim.