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Uma palavra apenas

por Maria Alfacinha, em 20.01.16

uma palavra

 

Beijou-a em pensamento, lentamente, os lábios mal se tocando, num carinho familiar. Beijou-a novamente, uma e outra vez, sem pressas, segurando-lhe o rosto entre as mãos, acariciando-lhe a nuca, apreciando o momento, saboreando-a em cada palavra que dizia, porque ela falava, era ele que em pensamento, nada mais que em pensamento, a beijava, enquanto a ouvia – porque a ouvia, não perdia uma palavra – ansiando que os beijos com que lhe cobria a boca, não a calassem, adiando, assim, propositadamente, a hora em se separariam, abafando um desejo em crescendo que não se atrevia a expressar, num receio quase infantil que a assustasse ou que a fizesse repensar o porquê de estar ali.

 

Inconscientemente, ou talvez não, inclinara-se na direcção dela que o observou curiosa, como se o visse pela primeira vez. Inquieto, procurou outro assunto, numa urgência em disfarçar o que sentia, o que lhe lera no olhar, evitando explicações - como é que se explica, o que não se entende? – fugindo da vontade de lhe perguntar como é que adivinhara, como é que sabia,  – porque ela sabia! – que a tinha acabado de beijar, se não lhe tinha tocado mais do que a informalidade da conversa lhe permitia, mantivera uma distância quase respeitosa, de circunstância,  embora, desde o início, se sentisse estranhamente próximo.

 

Nada o tinha preparado para o que acontecera. Gostava de dizer – garantia-o a quem o quisesse ouvir – que detinha o controle da sua vida, do que pensava, do que sentia, da forma como agia, como conduzia os seus passos, o que queria no seu mundo, o mundo que ansiava, o sonho de felicidade que o acalmava quando os dias perdiam a razão. Apressou a despedida, como se, nesse momento, precisasse da ausência dela, do distanciamento do que sentia, que o impedia de prever os momentos que se seguiriam e voltou para casa disposto a não deixar escapar a serenidade que o invadira.

 

Guardara consigo o riso, o abraço que não dera - mas que sentira – todas as conversas, os pequenos gestos que o tinham feito sentir vivo.

 

Olhou-se no espelho, tentando perceber o que mudara, mas sem resultado. Então, pegando no telefone, ligou-lhe para lhe perguntar.

publicado às 15:00

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