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Não sou perfeita. Nunca fui. Nunca serei e não quero ser.
Sou honesta, talvez demais para este mundo onde vivemos. Sou sincera e por vezes desbocada mas tenho cuidado nos meus gestos para com os outros, mais do que tenho comigo mesmo. Se calhar sou demasiado exigente, não sei, não consigo medir. Mas não exijo mais do que sou capaz de dar. Nem sequer tanto quanto espero de mim mesma. Não calo, não sou capaz de fingir. Na minha cara, em mim por inteiro, até um cego consegue ler o que sinto. Não minto. Costumo dizer que por preguiça, pois dá muito trabalho manter uma mentira e tenho melhores formas de ocupar o cérebro. Não perco tempo a elaborar vinganças. Acredito, porque a vida já mo provou, que há sentimentos que nos envenenam e até roubam a saúde. Não desenho planos para destruir ou magoar seja quem for. Sei - e mais uma vez tenho a vida como minha testemunha - que recebemos a dobrar o que fazemos aos outros. E não preciso de muito para ser feliz.
Sou teimosa. Sou tão teimosa que, às vezes, até irrita. Se meto alguma coisa na cabeça não tentem dissuadir-me. Ou mudo de ideias sozinha ou só uma lobotomia será eficaz. Sou impaciente. Já fui mais, eu sei, mas ainda é um sacrifício ter que dar tempo aos outros para levantarem o rabo do sofá e lutarem pelos outros ou, pelo menos, pelo que querem ou acreditam. Irritam-me os arrasta-pés, as pessoas que pisam e repisam o mesmo assunto e não conseguem tomar decisões. Sou intransigente. Levo muito tempo a tentar perceber, apoiar ou a encontrar uma forma de entendimento. Mas no dia em que desisto, desisto mesmo. Apago da minha vida pessoas, ou locais, ou assuntos. Fecho-as num canto qualquer e deito fora a chave. Mais grave, nem penso mais nisso. Sou tendenciosa. A minha primeira impressão é sempre a mais forte. O que sinto sobrepõe-se ao que penso. O meu primeiro gesto é para defender aquele que eu considero mais fraco, mais carente, mais desprotegido. Não sinto qualquer vontade em me colocar ao lado de quem tudo tem. Tenho muita dificuldade em encontrar interesse (ou até qualidades) em gente que considero reaccionárias, egoístas ou prepotentes. Não tem a ver com definições estabelecidas, tem a ver com quem sou. Somos aquilo em que acreditamos.
Não acredito num Deus omnipotente. Se ele, seja qual for, porque pelos vistos há mais do que um, existe, não tem feito um bom trabalho e eu não posso compactuar com a incompetência. Ou se calhar morreu, reformou-se e os crentes não sabem. Não me incomoda que alguém acredite num Deus assim. Pelo contrário, admiro quem o consegue fazer, quem tem fé. É fácil acreditar no que vemos, difícil é o inverso. Respeito a crença de todos e de cada um. Mas não admito que alguém a tente impor aos outros. Seja em nome de Jesus Cristo, Buda, Maomé ou Jeová. Exactamente pela mesma razão que não tento impor o que penso a quem se cruza comigo: respeito. Não idolatro ninguém. O Papa é apenas um homem. Quaisquer outros líderes, religiosos ou não, são apenas homens. Respeitá-los-ei, e até os conseguirei amar, pelos gestos, pelo que façam em prol das gentes, do mundo em que vivemos. Desprezo a violência, a prepotência, a imposição de regras que humilham, ferem e matam. Nenhuma Guerra é Santa.
A História repete-se. É sempre assim. Até ao dia em que Homem entender que não precisa de heróis, de ídolos ou notáveis que, resguardados na segurança dos seus palácios, ou dos seus apartamentos suburbanos, com refeições a horas certas e fácil acesso a cuidados de saúde, debitam discursos mais ou menos floreados, mais ou menos inflamados mas completamente vazios dos valores que deveriam defender. Nos lábios desta gente Paz, Amor e Solidariedade, soam a insulto. E estes são os únicos valores em que acredito e que me tornam capaz de mover montanhas. Estão dentro de mim, a par dos defeitos e qualidades que enumerei. Estão dentro de qualquer um de nós. Só precisamos de os encontrar. Não em nome de Deus. Não em nome da riqueza. Em nome de tudo o que ainda temos de bom, do que ainda nos resta enquanto gente. Em nome da Humanidade.