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Aqui todos os móveis têm história e muitas estórias por contar.
O cadeirão da mãe, confortavelmente moldado ao longo dos anos, o sofá branco que lhe tínhamos oferecido – ninguém quer sofás brancos, que disparate de oferta, onde é que tinham a cabeça? – o móvel que guarda o cheiro do vinil da minha infância, a senhorinha da tia, que já não se usa, que ninguém queria guardar mas ainda menos não o fazer, a cristaleira carunchada - que vai morrer onde está - guarda as panelas chinesas em louça branca e azul, os copos para refresco da avó, as chávenas de café que sobraram do serviço velho e o faqueiro pesado dos dias de festa, enquanto faz inveja à estante transformada em aparador que exibe, vaidosa, os copos de pé em ziguezague e a loiça de Natal que me aconchega o coração quando chega Dezembro.
Aqui há mantas e cobertas coloridas. Há cestas com lãs e livros por todo o lado. Uma colecção de vacas, outra de bules de chá, bandejas baratas expostas sem qualquer razão para tal. Aqui convivem, pacificamente, a boneca de pano, o soldado de terracota, a matrafona feita à mão pelas mulheres de Idanha, um pesado hipopótamo a que foi impossível resistir, uma vaca louca e um cão de gabardina que canta Serenata à Chuva quando não encontro razões para sorrir.
Aqui serve-se chá em loiça colorida, café em chávenas de porcelana ou vinho em copos frágeis. No Verão temos saladas frescas e no Inverno sopas que aquecem a alma. A mesa debaixo do telheiro faz serventia o ano inteiro, é a verdadeira sala de jantar, onde se debatem os problemas do mundo ou as dúvidas do coração. A música é uma constante, guardamos o silêncio para as manhãs de Domingos preguiçosos, enquanto assistimos ao nascer do sol.
Aqui a porta está sempre aberta e as cortinas afastadas. As campainhas são para estranhos, quem nos conhece grita-nos o nome e os que amamos são recebidos com abraços apertados e latidos eufóricos dos cães.
Sempre. A qualquer hora. Quando quiseres.
Sê bem-vindo.